30 de ago. de 2012

NOTURNO




É de noite: medito triste e só
à luz de uma candeia bruxuleante
e penso na algeria e nos enganos,
na velhice cansada,
na juventude audaz e petulante.

Penso no mar, talvez porque no ouvido
ouço o tropel feroz de suas ondas:
estou bem longe desse mar temido
do pescador que luta pela vida,
da pobre mãe que tão sozinha o espera.

Não penso apenas nisso, penso em tudo:
no pequenino inseto que caminha
no lamacento açude
e no arroio também que, serpenteando,
deixa correr a águas cristalinas...

E quando a noite chega, e tão escura
como boca-de-lobo, então me perco
em pensamentos cheios de amargura,
sombreando a minha mente
na ilimitada idade das lembranças.

Extingue-se a candeia: seus fulgores
semelham os espamos de agonia
de um morimbundo.Amarelentas cores
novo dia anunciam , e com elas
se esvaem minhas aladas utopias.

Pablo Neruda
In O Rio Invisível

Um comentário:

  1. Oi!
    Eu nem sei o que comentar,pois é muita linda essa poesia, e o autor dispensa comentários.
    Vim conhecer e adorei, já estou a te seguir.
    Desejo que tenha muito sucesso, mais do que já o possue.
    Abraços.
    http://wwwavivarcel.blogspot.com.br

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