16 de mai. de 2012

NOCTURNO



Uma noite traz consigo a brancura do nada,
o amor que se perdeu num banco de automóvel,
as mãos presas ao bater da chuva nos vidros
que já não reflectem o rosto desejado.

Uma noite pode cair depressa, sem esperar
que os olhos se habituem à sua treva,
ou pode apanhar-nos devagar, como a sombra
que anda ao nosso lado sem a vermos.

Uma noite, no fim do caminho, voltarei
a encontrar-te: para ouvir de novo
a tua voz branca como a noite, e tocar
os teus seios que a treva vestiu de terra.


Nuno Júdice
In Por Dentro Do Fruto a Chuva

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